Exposição Muungano... na SNBA
(Mudaulane)
Até 19 de Julho de 2025 estará aberta a “Muungano (1975-2025): 50 Anos de História, Arte e Cultura de Moçambique Independente” na Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa. A exposição celebra, como é óbvio, o cinquentenário da independência do país - e decerto que por isso vem o seu nome, “Muungano”, que traduzo não literalmente por “fraternidade”.
Também pelo motivo celebratório, prefiro entendê-la mais como uma mostra do que uma mais estrita “exposição”, a esta sempre se presumindo uma coerência conceptual. Pois trata-se de uma vasta amálgama de obras produzidas por muitos artistas, saudavelmente consociados nesta festa comemorativa. Uma verdadeira “Muungano”…
Não tive acesso ao catálogo, e como tal não posso elaborar sobre os critérios da selecção de obras e artistas. E assim também não posso afiançar quem foi o responsável (curador) da enorme tarefa ali patente. Mas a mostra - excelentemente montada, como não podia deixar de ser, pois a cargo da equipa da SNBA - justifica imenso a visita, tanto para os amantes da arte moçambicana como para os curiosos. E até mesmo uma “re-visita”, pausada!
Uma exposição com estes pressupostos festivos tem - até obrigatoriamente - características que poderão maçar alguns perfeccionistas. Acima de tudo, é evidente um desequilíbrio, dada a disparidade entre as obras apresentadas. Algumas aparentando ser descabido ombrearem com outras, dos ditos consagrados. A isso dever-se-á responder “Muungano”…, repito-me. Até porque presumo ter também sido um dos objectivos o de integrar jovens artistas - alguns dos quais talvez residindo em Portugal ou tendo visitado o nosso país.
Da geração agora nos píncaros saliento os trabalhos de Mudaulane, um dos quais - pela sua excelência e espantosa actualidade - escolho para encimar o postal. Depois, no vasto - talvez um pouco excessivo - ror de peças estão representados alguns dos “clássicos”: Chichorro, Malangatana, Noel Langa, Mucavele. E Lívio Morais, há muito residente em Portugal. E outros, que me são queridos, como, por exemplo, as esculturas de Naftal Langa e Miguel Valingue, menos afamados por cá. E também Zé Júlio e José Pádua, simbolizando estes a conexão entre artistas portugueses que residiram no país, quando colónia, e o futuro que entretanto aconteceu, um acto muito louvável, esclarecido, de curadoria. De “Muungano” artístico, por assim dizer.
Realça-se o “módulo” de fotografia, talvez de selecção autónoma - apesar de muito bem integrado na montagem -, com os mais-velhos Kok Nam, Rangel, Rogério (de saudar que este não tenha sido esquecido, como tantas vezes o é), os velhos-seguintes Santimano, Zé Cabral, e alguns dos subsequentes: Mula, Branquinho, Mauro Pinto, etc. E uma descoberta para mim, Idelfonso Colaço, com uma deliciosa “Homem Novo” que não resisto a reproduzir abaixo. Até por razões simbólicas.
A mostra fez-me também interrogar sobre como viaja a arte moçambicana para Portugal, o que instituições, coleccionadores privados e amadores adquirem - pois presumo que tenha sido manancial para a selecção apresentada. Pois é-me surpreendente que Ídasse, Shikhani, Chissano e até mesmo Naguib, Samate, Matias Ntundu ou Victor Sousa não estejam representados. Mas já não o será tanto que formas de expressão menos “modernas”, ditas mais “contemporâneas”, não estejam presentes: pois se é evidente o acesso a Ângela Ferreira, já não é de espantar a ausência de Jorge Dias, Titos Mabota, Berry Bickle (“Muungano”, insisto) ou o Gemuce avatar inquieto, decerto que menos adquiridos em Portugal.
Estou a apontar defeitos, a criticar? Nada disso. Reconheço que a mostra tem desequilíbrios e é um bocado demasiada…. Mas quero salientar que foi óptimo vê-la, que a visitei com júbilo e a ela voltarei, que saúdo os organizadores e a Sociedade Nacional de Belas-Artes por a ter acolhido. E que me pus a pensar quando a vi. Que mais se pode querer?
Apenas isto, que os outros também acorram.
(Malangatana)
(Idelfonso Colaço, Homem Novo)
(Filipe Branquinho)
Como nem todas as notificiações são… notadas, aqui deixo ligações para postais que possam ter escapado à atenção alheia:
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Daqui a duas semanas celebrar-se-á o cinquentenário da independência de Moçambique. Tenho esta forma de anunciar a efeméride: elenco 50 livros sobre o país, de autores nacionais e estrangeiros. Não me arrogo ao altaneiro estatuto de “crítico”, seleccionando os “melhores”, estabelecendo um qualquer cânone. Escolho 50 - nisso amputando vários da lista - t…
Rumo de Moçambique: à bolina, avivando brasas…
(Fotografia de Pedro Sá da Bandeira, Maputo, 16.12.2006)