Nos últimos anos venho votando na IL. Não sou um adepto da ex-primeira-ministra Truss (de facto uma "conservadora") ou do presidente Milei. Nem julgo ser o "liberalismo" uma doutrina estrita. Mas creio que esta árvore portuguesa tem de ser abanada. Nas suas formas institucionais e económicas. E, talvez mais, em termos culturais - na dinamização de diferentes formas sociológicas de operar (modi operandi).
De vez em quando irrito-me com os dirigentes do partido - o que considero normal, se tanto me irrito comigo mesmo como não haveria de me irritar com os outros? As piadolas benfiquistas de Cotrim de Figueiredo, em comissão de inquérito parlamentar, quase me fizeram pedir o cartão de militante no PS. Temi o engraçadismo de Rui Rocha, quando este passou a presidente - justiça lhe seja feita, abdicou disso durante o exercício do cargo. (Mas agora já voltou ao piadismo - acabo de lhe ler qualquer coisa como "há uma cisão no PS entre frouxos e fanfarrões").
(A latere, convém lembrar que entre uma franja de políticos - agora quarentões e cinquentões - há o culto do piadismo. A este chamam, por ignorante arrivismo, "sound-bytes". Não percebem que essas piadolas são tão ridículas e impotentes como a velha e rebuscada oratória parlamentar - por muitos já esmiuçada e estralhaçada, e tão bem dissecada no "Glória" de Vasco Pulido Valente.)
Não decido o voto apenas por entusiasmos ou irritações episódicos, ou por uma ou outra simpatia ou antipatia pessoal. Apenas espero alguma consistência intelectual dos dirigentes dos partidos nos quais voto.
Quando Mariana Leitão foi anunciada como candidata presidencial, telefonou-me uma pessoa que muito prezo, e que tem menos de metade da idade daquela política. Vinha, ouvia-se, com os cabelos em pé! Pois fizera aquilo que as novas gerações fazem: desconhecendo a política fora ao seu perfil de Linkedin. E, com o vigor até cruel da sua juventude, clamava contra a mediania do percurso curricular e extra-curricular de Leitão. Mais ainda, contra o facto de ela afixar minudências, resmungando mesmo "eu fiz essas actividades, e até mais, durante a escola secundária e já as tirei do meu currículo", dizia a ainda estudante... “Ela não tem perfil para a presidência!!”, culminava, castigadora! Tentei ser pedagógico, afirmando a minha crença: para se ser um bom político não é necessário ter tido um percurso escolar brilhante ou de cidadania dadivosa. Nem mesmo um trajecto profissional fulgurante. Depois telefonei a um meu conhecido, que vai junto à IL, e disse-lhe "ouve lá, avisa alguém para mudarem o perfil de Linkedin da vossa candidata, que aquilo está muito fraquinho".
Há pouco tempo uma pessoa que muito prezo, e que tem o triplo da idade da anterior interlocutora, convocou-me para um artigo sobre o percurso profissional da então candidata a presidente da IL, durante bastante tempo vinculado à oligarquia angolana. Li. E retorqui - de forma que foi mal recebida - que o artigo apenas demonstrava que Leitão começou a trabalhar como uma "menina do seu pai", o que não é pecado, nem mortal nem venal. E que tem as "mãos limpas", pois ali não havia fumo de suspeição sobre hipotéticas malfeitorias. Encetou a sua carreira profissional num trabalho benevolente no âmbito de instituições ligado ao poder angolano. Seria mais "estético" não o ter feito? Sim. Mas, insisto, não é pecado, mortal ou venal.
Ontem, um amigo próximo, pejado de crueldade cáustica, sondou-me sobre estas declarações: "Mariana Leitão quer combater CHEGA, o novo socialismo à direita", proferidas após a eleição como presidente da IL. Já não respondi, pois a isto já não vou defender. Não vou aqui voltar à "vaca fria", a constatação de que o generalizado discurso anti-CHEGA desde que o prof. Ventura foi eleito parlamentar só tem feito crescer esse partido. Ou seja, que proclamações destas são contraproducentes.
Mas a minha irritação com estas declarações tem outra razão. É certo que há umas décadas se usava a expressão "capitalismo de Estado" para descrever o bloco soviético. Era, grosso modo, uma metáfora utilizada para afrontar a propaganda comunista - usando os próprios termos, explícitos e implícitos dessa propaganda - que anunciava aqueles contextos como socialismos "progressistas", "igualitários" e sem "exploração" (do homem pelo homem). Mas, de facto, a expressão era apenas isso, uma arma retórica. Pobre.
Isto agora é o mesmo rumo. Pois o partido CHEGA não é "socialista". O seu programa tem mudado ao longo destes anos. O actual é uma vacuidade. O que o partido vai apresentando é uma difusa visão estatista - o próprio Pedro Arroja, que escreveu programa pretérito, com isso muito resmungou. Poder-se-á discutir esse lasso conteúdo, e as suas causas - as quais muito passarão pelo vazio intelectual do pequeno núcleo dirigente do partido mas também pelo autoritarismo tutelar que será a mundividência ali dominante.
Mas o "estatismo" não é "socialismo". Quando Leitão enceta o seu percurso presidencial com um dichote destes, logo me faz lembrar as atoardas de José Rodrigues dos Santos, que divulgava os seus livros proclamando, em busca de polémica publicitária, a similitude entre "fascismo" e "marxismo". E se é Rodrigues dos Santos uma referência intelectual para a nova direcção da IL, ou para os seus novos propagandistas - estes sempre em busca dos tais "sound-bytes" -, então vai mal a IL.
Sumarizo assim: Leitão começou esta sua etapa com uma atoarda. Dela denotativa? Haja quem a defenda.
Eu logo verei em quem votarei...
Como nem todas as notificações são … notadas, aqui deixo ligações para postais anteriores:
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