Isto era eu em 2007, fotografado em Maputo no jardim da casa de um casal muito amigo. Eu tinha um blog desde 2003, mais dedicado a Moçambique. Mas já tinha resmungado sobre uns dislates lusos - era a época de afirmação do entretanto defunto BE. O que logo havia sido suficiente para que um jornalista mariola chamado Rainha me afixasse no "top-ten" da direita blogal, arrolando-me do meio de fascistas, assim mesmo chamados... Imagine-se o meu ar, professor contratado por uma universidade pública moçambicana, ao ver-me na internet emparelhado a uns quaisquer blogs intitulados "neofascistas de Arrentela" ou "neonazis de Almeirim", coisas tétricas dessas. Resmunguei entre palavrões peludos "o pequeno mundo dos esquerdalhos lisboetas, acampados entre o Campo Grande e Campolide" - nem de propósito, quando voltei a Lisboa estava o tal Rainha instalado no prestigiado ICS, ali à Biblioteca Nacional. "Cultos", dizem-se. Enfim...
Em 2007, com este ar ainda ligeiramente encanecido e muito menos engelhado, já havia eu lido algumas peças jornalísticas e falado com alguns sérios amigos portugueses. Sabia quem era Sócrates. Sabia que era bem diferente de Soares (& Zenha), Sampaio ou Guterres, alguns dos quais haviam recebido o meu voto. Sobre o traste indivíduo fui blogando desde esse então e nos anos subsequentes. E lendo, muito também em blogs - gente até desesperada com o rumo nacional.
Mas também muitos defendendo-o, até à última. Na imprensa, nos blogs. Alguns transportando-se destes para a tal imprensa e, depois, para o poder político. E/ou para sinecuras. Costumo simbolizar essa mole com as gentes do blog "Jugular", indefectíveis socratistas alcandorados sobre um pedestal de infinita arrogância (Palmira Silva, Vale de Almeida, Câncio, Galamba, e um enorme etc.).
Sócrates lá caiu, deixando o país qual trambolho. Foi para Paris "estudar". Publicou a "sua" tese, posfaciada por Eduardo Lourenço, respeitoso para com o "Senhor Engenheiro José Sócrates" (sic) - trecho nunca abordado na exegese que os académicos do CES e associados ao Mestre fazem. Voltou a Portugal, rumo a Belém: palestrou sobre Rimbaud, pois transformado em erudito. Encetando uma tournée de "cultura", pensada como adequada a um PR. Um antropólogo seu vassalo levou-o ao ISCTE para pavimentar uma qualquer sessão de magister dixit. Etc.
Eu já havia regressado à Pátria Amada, e à toca dos Olivais. Assistindo in loco a tudo aquilo: o seu pessoal na imprensa, os veteranos bloguistas (meio então já menos comum), a rapaziada das "redes sociais" (FB, Twitter), os velhos militantes aspergidos dos ares de Bad Münstereifel, os simpatizantes do "dá jeito ser do PS", a malta das autarquias, todos rejubilavam, em frenesim laudatório. E de todos nós, os "outros", avessos ao energúmeno, diziam sermos "ressentidos", "ressabiados". Doentes psicóticos, entenda-se...
Entretanto Costa, seu antigo nº 2, tomou a liderança do PS. Logo Ferro Rodrigues, ascendeu a chefe da bancada parlamentar. No seu primeiro discurso nessa condição, e ao invés da anterior direcção partidária, reclamou "o legado de José Sócrates".
No dia seguinte a esse discurso parlamentar fui até à tasca do bairro, abanquei na mesa que me albergava naquele meu primeiro Inverno de "torna-viagem", náufrago que estava. A tv sintonizada nas "notícias" e logo na primeira rodada percebi que Sócrates havia sido levado até à nossa vizinhança do Parque das Nações, para prestar declarações. Ficámos ali horas, rodadas e mais rodadas, à espera do que iria acontecer. Finalmente lá veio a (ansiada) notícia: o biltre ia dentro! Júbilo, ovação, maior do que a em qualquer futuro golo de Éder!!!
Ontem, e até que enfim, Sócrates foi a tribunal - do qual presumo nunca sairá efectivamente condenado. A amada e respeitável democracia é isto: só ele está em tribunal!
Mas ela também permite outra dimensão: só ele está em tribunal. Mas em "julgamento" intelectual está toda a imensa tralha dos seus apoiantes, que dele foram indefectíveis: os tontos que "não perceberam"; os complacentes, "pois ele é de esquerda"; os coniventes, os do "sou do PS"; e os cúmplices, essa abjecta corte feita desses santos silva, vital moreira e tantos quejandos.
Muitos poderão discordar de mim. Mas terão de concordar numa realidade: eu não sou o quase-viçoso patente nesta fotografia. Já resto escombro, pois vinte anos passaram, 20 anos!!!, desde o evidente início disto.
E a responsabilidade disto, deste tanto tempo e de todos os efeitos de entretanto, é mesmo só dos seus apoiantes. Nem vale a pena adjectivá-los.
Como nem todas as notificações são … notadas pelos subscritores, aqui deixo ligação ao postal anterior
Em Lagos, sábado 12 de Julho
Começo Julho assim: a confirmação do simpático convite da Biblioteca Municipal de Lagos, a "Júlio Dantas", para apresentar o Torna-Viagem no sábado, 12 de Julho, depois das 15 horas.
Um Amigo, excelente jornalista, enviou-me este comentário: "Está muito bem, mas bastava isto (e cita-me):
"Ontem, e até que enfim, Sócrates foi a tribunal - do qual presumo nunca sairá efectivamente condenado. A amada e respeitável democracia é isto: só ele está em tribunal!
Mas ela também permite outra dimensão: só ele está em tribunal. Mas em "julgamento" intelectual está toda a imensa tralha dos seus apoiantes, que dele foram indefectíveis: os tontos que "não perceberam"; os complacentes, "pois ele é dee esquerda"; os coniventes, os do "sou do PS"; e os cúmplices, essa abjecta corte feita desses santos silva, vital moreira e tantos quejandos."
Eu respondo-lhe: "Sim, num registo jornalístico no qual és mestre. Mas eu sou uma velha stripper"