Há dias morreu o celerado Mouta Liz, um dos fundadores e dirigentes das temíveis FP-25 que assombraram Portugal na década de 1980. Está esquecido o trauma nacional que esse grupo terrorista comunista causou? Nem tanto, até pela publicação recente de alguns trabalhos de investigação entre os quais se destaca o livro Presos Por Um Fio: Portugal e as FP-25, de Nuno Gonçalo Poças (Casa das Letras, 2021).
Mas desde há décadas que muitos tentam apagar a memória sobre o terrorismo comunista no país. Isso notou-se na inserção de vários desses guerrilheiros urbanos nas candidaturas do partido comunista Bloco de Esquerda - e até mesmo a ocasional inserção em listas autárquicas do Partido Socialista.
Também no funcionalismo público aconteceu essa “recuperação” dos terroristas das FP-25. Talvez o caso mais espantoso tenha sido o de José Soares Neves - que fora condenado a uma pena de 17 anos de prisão - promovido no ISCTE a director do seu Observatório Português das Atividades Culturais - organismo do qual tomei conhecimento quando a imprensa ecoava os seus relatórios criticando o governo liderado por Passos Coelho. Ou seja, o Estado colocou um terrorista - que nunca cumpriu pena nem abjurou das suas crenças políticas - a “vigiar” e criticar publicamente os governos democraticamente eleitos. E o qual chegou mesmo a fiscalizar a admissão de novos juízes! Tudo isto sem o mínimo sinal de contestação entre o vasto contingente de funcionários públicos laborando no referido ISCTE. Ou noutras instâncias públicas congéneres. Em suma, numa larga faixa da sociedade portuguesa instalou-se uma complacência face à memória daquele terrorismo.
Toda esta efectiva cumplicidade muito se alimentou com o esforço de reescrita da História, um exercício continuado ao longo das décadas, prosseguido muito sob protecção estatal. Essa falsificação foi particularmente exercida em torno da figura do líder terrorista Saraiva de Carvalho, tentando expurgá-lo dessa característica. De vez em quando abordei a matéria: como em 2011, face a um texto de Maria Manuela Cruzeiro, funcionária pública adstrita com funções de historiadora (!) ao CES de Coimbra, organismo então liderado pelo comunista, de tendência enverhoxista, Boaventura Sousa Santos. Ou, para outro exemplo, aquando da morte desse terrorista, face ao texto falsário de Elísio Estanque, também funcionário público inscrito nesse CES - então publicado no jornal Público, este sempre muito simpático para com estas tendências falsificadoras.
Este pequeno historial é relevante pois enquadra o episódio actual, refutando qualquer tentativa da sua redução a mero “incidente”, qual mero erro - pois “errar é humano”. Pois na morte deste Mouta Liz, o qual chegou a octogenário sem ter cumprido pena e sem se ter regenerado - nunca reconheceu nem lamentou os seus crimes -, de imediato o Público, sempre dito jornal “de referência”, publicou a notícia referindo as FP-25 como “organização terrorista de extrema-direita”.
Alguns dirão que se tratou apenas de um mero erro de frenesim noticioso, qual velha "gralha". Outros atribuirão o facto a um dislate ignorante de um qualquer "jovem estagiário", esse sempre invocado inculto bode expiatório.
Mas não se trata disso. Pois denota uma mundividência, sedimentada por todo este trabalho de falsificação da História levado a cabo por políticos comunistas e funcionários públicos seus cúmplices. Nesse entendimento face a “terrorismo” este só poderá ser de “extrema-direita”! Tratou-se de um reflexo condicionado, efeito de uma ideologia inculcada: a "esquerda" é virtuosa, e sê-lo-á ainda mais a "extrema". O Mal, o Terror(ismo)? Só pode provir da "direita", ainda mais da sua "extrema".
Mas trata-se também de uma militância, falsária. E isso, essa simpatia para com o terrorismo assassino comunista, essa cumplicidade no apagamento da memória, ficou patente no trabalho da redacção do Público. Pois passadas horas, e face à reacção generalizada entre os leitores - entre a jocosa e a irada -, a notícia foi emendada. Da legenda foi retirada a caracterização “extrema-direita”. E ficou apenas “organização terrorista FP-25”. Só horas depois, face à continuidade da contestação - as imagens tornaram-se mesmo “memes” - a liderança do Público cedeu. E caracterizou as vis FP-25 como de …. “extrema-esquerda”. Custou, mas foi!
Entretanto, a SONAE financia...
Porque nem todas as notificações são… notadas pelos subscritores, aqui deixo ligação a postal recente desta rubrica “O Clérigo Mouco”: