Na Feira do Livro: um domingo com Vítor Sá Machado e Paulo Dentinho
Há anos que não vou à Feira do Livro (de Lisboa) “como deve ser”. Ou seja, para comprar livros. Pois não o faço. Por um lado, porque tenho a casa atafulhada de livros que (ainda) não li. Por um outro, pois o dinheiro muito me escasseia - também por isso me transferi para esta Substack, a ver se alguém financia esta minha bloguística escrita desgarrada (muita gratidão aos que o fazem) - e reservo-o para o frugal rancho.
Ou seja, só vou à Feira do Livro com imenso cuidado, desenfio-me de alguns perigosos pavilhões, fujo como o diabo da cruz do da Relógio d´Água (aqueles fundos de catálogo, malditos maravilhosos, a 5 ou 7,5 ou até mesmo 10 euros são um canto de sereia). E apenas lá vou para um abraço ou aceno devido a alguém ali deslocado para as rituais “sessões de autógrafos” - nos últimos anos, que me lembre, os meus amigos Isabel Quadros, o seu mano Nuno Quadros, Miguel Valle de Figueiredo, Paulo Dentinho, Edgar Pêra. Ou respeitados conhecidos, como o meu antigo professor João Pina-Cabral ou o Jerónimo Pizarro que conheci em Bogotá, gentilíssimo e ainda mais interessantíssimo. Mas sempre fugindo de um hipotético copo posterior, pois caríssimos são os preços praticados nas “barracas” da Feira - e há que dizê-lo, clamá-lo, contestá-lo... E, sublinho-o, quem ali está de modo especulativo - a aproveitar-se dos incautos munícipes, para lá institucionalmente atraídos e induzidos na postura gastadora - não são os malvados imigrantes, sikhs, guineenses, sírios, são mesmo “empreendedores” tugas…
Enfim, desabafo (político) feito, avanço para anunciar que amanhã (domingo, 15 de Junho) lá estarei, e nisto convidando outros para que por lá apareçam. Irei para duas dessas sessões: às 20 horas, na “Praça Azul” o Vítor Sá Machado assinará o seu recente livro “Citações (muitas), Excitações (algumas)”, editado pela Lema d’Origem (2025). E antes, na capitalista “Praça Leya” às 16.30 h. o Paulo Dentinho cumprirá o seu ritual convívio com leitores compradores do seu “Sair da Estrada” (Caminho, 2021) - dadas as cautelas que expressei acima não sei bem o que farei nas horas que intervalam as sessões. Mas talvez desça até ao vizinho Marquês e recomemore a “dobradinha”…
Abaixo deixo a minha (auto)justificação para a minha perigosa incursão. Explico primeiro a minha adesão ao Vítor Sá Machado. E depois reproduzo um texto que em tempos fiz sobre o “Sair da Estrada” do Dentinho:
Conheci, brevemente, o Vítor Sá Machado no Maputo de 1999. Um dia a minha secretária disse-me, até um pouco atrapalhada, que “Vítor Sá Machado” - nome de quem era então figura grada da Gulbenkian - pedia para falar comigo. Eu sorri à atrapalhação, pois me foi logo evidente ser uma coincidência de nome. O Vítor lá veio, logo afirmando, num sorriso de suave autoderisão irónica, “eu não sou “o” Sá Machado”.
Informou-me que estava há alguns meses a trabalhar como cenógrafo na TVM. E, com um ar radicalmente desconvencido de si-mesmo, mostrou uma pasta cheia de desenhos (“aguarelas” para melhor falar) num genuíno "eh pá, veja lá se isto tem algum interesse para expôr", se alguém lhe pegaria, lhe encontraria interesse, até mesmo comprando. Ou seja, e era esse o seu objectivo, se se justificaria fazer uma exposição - eu na época, para além de uma miríade de outras tarefas, era responsável do centro cultural português e sua concorridíssima biblioteca (também por isso quando me irrito com incúria inculta da minha junta de freguesia não sou apenas um maldizente crónico do PS, como alguns me atiram, sou mesmo um freguês exasperado).
Lá abri a pasta, até a medo, que às vezes apareciam propostas… pouco atraentes. Mas logo a achar aquilo uma delícia. E, de súbito, estanquei diante de um, estupefacto pois “este tipo retratou-me sem me conhecer". E disse-lho: “este sou eu, como é possível?, como é que conseguiste?, [passámos ali ao “tu”] pintaste-me e nós nunca nos tínhamos visto! Compro já!!” e assim foi. É a imagem que encima este postal! Durante anos esteve na porta do meu escritório. Depois, aqui em Lisboa, está à entrada de casa, defronte de uma feiticeira parturiente do meu mano Ídasse e da fotografia “Sinal Proibido” do querido e saudoso Luís Abelard, essa que é capa deste “O Pimentel” e será capa do meu próximo livro. Quem me conheça nisto perceberá o quão relevante ficou para mim…
Mas não foi tudo, e isto nunca terei contado ao Sá Machado. “Merece exposição? Claro que sim, magnífico trabalho”, logo exultei. Eu teria a planificação de exposições já cheia para os meses futuros - na época aquilo era uma azáfama. Mas aquela impunha-se-me, e como urgente. E, falando francamente, pedia, exigia, um enquadramento mais festivo, mais “enturmado” do que o afinal institucional Instituto Camões.
E lembrei-me… Eu era então mais habitual na esplanada da Associação de Escritores (AEMO). Mas às vezes ia beber um copo ao Sindicato dos Jornalistas (SNJ) - até porque no meu corrupio cumpria, parcial e informalmente, um pouco da labuta de “adido de imprensa”. O seu secretário-geral era o já falecido Hilário Matusse, homem muito simpático, “boa onda”. Fui até ele e propus-lhe fazer lá a exposição, o “salão nobre” (por assim dizer) daquela sede tinha todas as condições para tal. Disse-lhe “trago os quadros, montamos, e também trago umas bebidas e os canapés, e ainda se anima o bar da casa”!!! Ele logo aceitou, agradado e muito surpreendido - não sei se já lá haviam exposto mas, pelo menos, há anos que tal não acontecia.
O dia da inauguração foi um sucesso. Não sei se de vendas, que não era meu assunto (não cobrávamos comissões, era o que faltava…). Mas apareceu imensa gente, do meio jornalístico e dos frequentadores do Camões, pródigos em agrados e louvores… Terminada a “função”, partidos os convidados, fiquei a beber umas cervejas com o Matusse e alguns dos seus colegas, a gente feliz e animada, conversa em sortido solto.
Estávamos em finais de Agosto ou inícios de Setembro 1999, aquando do referendo sobre autonomia/independência de Timor-Leste e posterior votação na ONU sobre a matéria. A situação era complexa. E corriam rumores que o governo moçambicano ia derivar para a malvada realpolitik, disposto a na ONU apoiar a Indonésia - a qual recentemente havia empossado um influente general moçambicano como seu “cônsul honorário” em Maputo. Numa óbvia diligente manobra para obstar às relações históricas do Frelimo com a Fretilin - que sempre tinha tido um importante núcleo exilado em Moçambique, entre os quais Mari Alkatiri, então ainda residente.
Ora os meus parceiros de mesa deixaram-se comentar o assunto, libertando o desconforto com o que parecia irremediável, esse viés até paradoxal do seu governo. Perguntaram-me o que pensava eu, apenas deixei cair o meu lamento. Mais umas 2M e aventou-se “o que se pode fazer?” - até porque nessa altura era menos frequente a opinião autónoma publicada por jornalistas, algo restrita aos de facto esconsos jornais-fax… E, animado pelo convívio, avancei “façam aqui um encontro público sobre a questão, uma mesa-redonda, se se quiser!”, “chamem alguém do partido, também da Fretilin, o Alkatiri se cá estiver. Caramba, são partidos-irmãos, é normal a solidariedade mútua”.
A proposta foi acolhida como “boa ideia”. Logo na semana seguinte lá aconteceu o tal debate público. Acorri, cheguei com a Inês um pouco antes de todo o pessoal da embaixada - era a época do “ai, Timor”, não nos esqueçamos, não era apenas “política” mas, por ridículo que agora possa parecer, também sentimento, a todos nos convocava. Mas encontrei o Matusse bastante incomodado, puxou-me para a varanda, lamentou-se que o SNJ estava a ser criticado por “estar a fazer o jogo dos portugueses”. Neguei tal coisa, veemente, “quais portugueses?, vocês estão é a fazer o jogo dos timorenses, que o merecem…”. “Eu sei”, concordava ele, “mas é o que os camaradas estão a dizer”. E como tal desabafou comigo, “o que achas de eu colocar o Malangatana a fazer a primeira comunicação?, a ele ninguém criticará…”. “Grande opção”, disse-lhe, “na mouche” pensei… E ficámos ali na portaria à espera dos participantes, nós ombreando de mão-dada, nesse gesto que a nós portugueses nos é tão excêntrico - e ainda recordo o brevíssimo lampejo de espanto do meu chefe quando chegou e nos viu assim…
E decorreu a sessão, em ambiente político tenso, mas ali entusiástico: o mais-velho Malangatana, na sua voz de barítono, em emocionado clamor independentista abriu a sessão. Alkatiri seguiu-se-lhe, e outros oradores também. Um sucesso. Em sala cheia de gentes solidárias. Rodeadas pelas aguarelas do Vítor Sá Machado, tão celebratórias da vida…!
(Depois, já na saída, o meu chefe - o homem mais inteligente, competente e, acima de tudo, decente que conheci na vida, o Embaixador António Valente, um “Príncipe da República” como sempre o digo -, cumprimentou-me, com o seu contido sorriso, “parabéns Zé, foi uma boa jogada!”. Neguei-o “não foi uma jogada, Embaixador. Foi uma serendipidade!”. E fora-o. Ele alargou um pouco o seu sorriso. E seguimos a nossa vida. Na qual, dias depois, pudemos assistir a que Moçambique, afinal, sobre Timor-Leste não se subjugou à tal malvada realpolitik. Quero acreditar que, um pouco pelo menos, devido à firmeza dos seus jornalistas.)
Um abraço, Vítor, a ver se até amanhã.
(Paulo Dentinho, Sair da Estrada, Caminho, 2021)
Deste Sair da Estrada deixo apenas as minhas impressões, nada procurando fazer-lhe uma recensão. Nele está como se uma autobiografia do Paulo Dentinho, 30 anos mundo afora com recordações de reportagens em 13 países, algumas sendo trabalhos únicos, outras com visitas sequenciadas e ainda as resultantes de estadas prolongadas, como correspondente da RTP. Nestas 400 páginas ficou um retrato do mundo das últimas décadas, do qual algumas memórias tão significantes se vão esfumando dado o constante turbilhão noticioso: a atenção às guerras e seus efeitos nas nossas antigas colónias (Angola, Moçambique, Timor-Leste), ao início da que viria a ser a maior guerra africana (actual Congo), aos conflitos do sul europeu, com a crise grega, a dissolução da Jugoslávia e o já esquecido projecto de agregação da Turquia à União Europeia. E, claro, no omnipresente conflito do Médio Oriente (Israel, Líbano), nas ondas de choque pós-2001 (Paquistão, França), e nas refracções da que foi chamada "Primavera Árabe" (Síria, Líbia).
Realço três dimensões que muito me agradam no livro. Conheci o Paulo Dentinho em Moçambique, e ali muito interagimos. Foi-lhe uma estada difícil, tendo saído do país sob uma incessante corrente de ameaças de morte (e recordei isso neste postal). Recordo-me muito bem desse período e afianço que o capítulo agora dedicado a essa época é mesmo fidedigno, diria mesmo que "sem tirar nem pôr". Mais, muito me lembro da ida em 1997 do Paulo ao então Zaire - logo após o frenesim profissional que ambos vivêramos na visita de Jorge Sampaio ao país - e de como ele a contava quando regressado a Maputo. Narrativa que está agora, ressuscitada, no livro. Presumo pois que nos outros 11 capítulos seja também assim, uma colecção de memórias sem quaisquer adornos, reconstruções embelezadoras ou engrandecedoras do autor ou das situações.
Outro agrado é a forma como o Dentinho apresenta breves enquadramentos das situações em cada país. Pois em nenhum momento se deixa tentar pelo diabo ensaístico, nessas habituais resenhas históricas com intuitos explicativos ou nas recorrentes deambulações sobre um qualquer fio condutor que explique a miríade de males do mundo, qual filosofia de história de pacotilha ou atrevido estipular de cadeias de causas-efeitos, esse pobre efeito sob verniz intelectual que nada mais é do que reflexo das agendas das causas em voga. Pelo contrário, ele dá-nos ágeis contextos do que se passava, bem inscritos no que lhe é fundamental: como trabalhou. Pois este é um livro sobre jornalismo. E nisso - e é este o meu terceiro agrado imediato - o Dentinho, profissional do audiovisual, veio, e sem qualquer "escritor-fantasma", com uma escrita lesta e veemente, a prender-nos.
O livro traz-nos o modo de trabalho em "grande reportagem". O Sair da Estrada, escapar-se aos hotéis internacionais onde pululam as informações padronizadas, oficiais e oficiosas, fugir ao asfalto (mais ou menos) seguro, arriscando-se, muito mesmo, nas vielas e subúrbios, pelas veredas e picadas. E nessas andanças encontrar o rumo das notícias, essas de abertura televisiva ou primeira página de jornal, mas também quem lá está, exulta ou sofre. E é muito desses que o livro fala, os que cruzaram o repórter e lhe possibilitaram o trabalho, vários intérpretes ou motoristas, quantas vezes quais pisteiros, colegas, alguns já tombados em acção, bem como uma ou outra colega mais cativante cujos vislumbres acalentaram dias difíceis e excitantes, até combatentes ou meros passantes. E tudo isso sem requebros de romance de correspondente de guerra mas num muito mais relevante "é assim!". E, acima de tudo, traz-nos os seus camaradas de percurso, os homens da câmara, sempre invisíveis no ecrã e treslidos no genérico, correndo os mesmos riscos - até mais, pois mais visíveis -, sofrendo as mesmas ansiedades, co-autores das reportagens.
E nisto o livro torna-se não apenas uma memória para "contar aos netos" - para que os filhos o venham a ler, como se justifica o autor em entrevista. Mas um verdadeiro livro de cabeceira para futuros jornalistas - pois se a indústria está em crise, a reconfigurar-se, a vocação jornalística estará em crescendo. Nele não poderão os aprendizes receber o "como fazer" manualesco mas avisarem-se da necessidade do improviso, de seguir a intuição própria e perseguir o risco. O trejeito próprio. Com os quais o Paulo Dentinho seguiu ao longo das décadas, conseguindo belas reportagens - ainda me lembro de o ver com José Mattoso nas montanhas de Timor e rir-me num "só este gajo para tornar aventurosa uma pesquisa arquivística", episódio que aflora agora no livro. E entre elas algumas reportagens de eco mundial, raríssimos feitos na imprensa portuguesa, de facto no país apenas comparáveis em eco internacional a algumas conquistas no mundo do futebol, do atletismo ou, em modo mais discreto, da diplomacia.
Mas há um outro país presente ao longo do livro, o nosso, pois subjacente capítulo a capítulo. São várias as notas sobre a radical incompreensão, mesmo desrespeito, que os repórteres de terreno (e que terrenos!) vão sofrendo pelos colegas e administrações, estes apoucando (até desperdiçando) notícias e peças, desvalorizando riscos, efeitos do peso do "modo funcionário" que vigora. O que se traduz em coisas inenarráveis, por vezes fruto de ignorância mas outras sendo mera pesporrência: a equipa detida por milícias em sítio ermo, o repórter telefonando para a RTP identificando o líder da patrulha que os prende e deste lado recebendo um enfastiado "que é que queres que eu faça com isso?"; ou a equipa preparada para o sacrossanto "directo" no telejornal das 8, sita em local fustigado por fogo algo errático e esperando que decorra a cinzenta agenda dos "passos perdidos" (ouvir, sob fogo há meia hora, "aguenta mais um bocadinho, que o Jorge Lacão está a falar" é de bradar aos céus!), entre tantos outros desaforos e até malevolências. Um contexto laboral que leva o autor a desabafar, entre outros trechos similares (e dolorosos de ler): "Apetece-me vociferar contra estes tipos que construíram as carreiras quase sem fazer uma única reportagem. O único risco deles é gerir favores, fazer salamaleques aos poderes para se irem mantendo de direcção em direcção. Pobre país o meu." (62).
O livro termina no 2015 parisiense, no ataque ao Charlie Hebdo e subsequente captura dos terroristas, emotivamente narrado. Dentinho associa-o, como tem de ser, à perseguição ao dinamarquês Jylland-Posten em 2006, numa total defesa, sem rodeios nem escusas, da liberdade de imprensa, do humor, da blasfémia, dos que fazem "a provocação sistemática de tudo e todos, da extrema-direita aos meios católicos, dos políticos em geral aos jornalistas. "Rire, bordel de Dieu!" contra a apregoada "razão de Estado", agora dita multiculturalista pois respeitadora, sempre desejosa de controlar a imprensa, de facto "uma engrenagem em que a primeira etapa é a autocensura e a última a capitulação" (399). Gosto muito deste final, de cabeça erguida no meio do terror fanático e do censório "democrata". E ainda mais porque vem do Paulo Dentinho, homem de esquerda neste nosso país em que essa tal esquerda no último ano apoiou para Presidente da República uma candidata que reiteradamente atacou essa liberdade, apoucando de modo até soez as vítimas do terrorismo fanático. Esquerda essa que também propôs para o Tribunal Constitucional um candidato que segue a mesma mundivisão, dizendo serem iguais os fundamentalistas terroristas e os artistas/jornalistas democratas. Sem que tal cause qualquer repúdio, mero sobressalto que seja, no seio do tal "modo funcionário" de pensar e actuar, tão dominante este segue.
Os últimos anos já não surgem no livro. Dentinho foi director de informação da RTP [repito-me, escrevo sobre ele e esse processo excêntrico neste postal]. Os postos de chefia não são eternos e ele foi substituído - disse-se que por desconforto da comunidade futebolística devido a um postal seu no Facebook. Mas ninguém disse na época que o desconforto da malta do futebol, de Lisboa e Porto até La Valleta, advinha da sua imediata oposição a outras futebolices. Enfim, ele seguiu o seu rumo, menos agitado desde então. Com o seu renome ainda conseguiu um "furo" (como antes se dizia), uma entrevista a Lula da Silva, então preso. Lá foi, mas privado de um homem de câmara, e para in loco se deparar que lhe tinha sido atribuído um material de recolha audio e visual... danificado. Enfim, o tal "modo funcionário" mau demais, sempre capaz de surpreender pela... negativa.
Ou seja, se o Dentinho passou 30 anos a Sair da Estrada está agora fora da estrada, emprateleirado. Tem o programa "Mundo sem Muros", convenientemente alojado na noite longa da RTP3 (e na RTP Play, claro). Nele se fala sobre o mundo. Ali ele não entrevista políticos no activo, travestidos de "comentadores", nem ex-políticos feitos correias de transmissão de órgãos de soberania, partidos políticos ou grupos de interesse, nem tão pouco académicos catedráticos de "Tudologia". Pois ali o Paulo Dentinho aborda as situações do mundo, sentando-se com .... outros colegas, correspondentes. Faz jornalismo, com jornalistas, como jornalista. E, acima de tudo, como um homem livre.
Paulo, o livro ficou bom. Espero que os teus filhos o venham a ler, como desejas. E que a minha filha o faça. E que os jovens jornalistas e os ainda aprendizes o leiam, inebriando-se até, se possível. E sonho que alguns dos da nossa geração o façam. Entusiasmando-se com o teu meneio nas letras. Divertindo-se com as memórias das nossas vidas que nos trazes. E, ainda mais, que um ou outro de nós te possamos ler, homem livre que seguiste e continuas, concluindo: "como acabei assim?!". E que nisso, nessa amargura, possamos melhorar um bocadito, fazer por aligeirar a nossa canga. Graças a ti.
Enfim, Dente tens estado bem. E no livro estiveste mesmo bem. Abraço.
(Adenda: entretanto, e após anos disso o Dentinho conseguiu desemprateleirar-se e seguiu para Bruxelas como correspondente da RTP. A fazer o que bem faz. E também por causa dessa sua longa e competente experiência estará também amanhã, um pouco antes, às 16 horas, na “Praça Vermelha” da Feira do Livro de Lisboa para apresentar o livro “Portugal na Europa e com a Europa: que Futuro?”, de António Costa Silva, agora publicado pela Guerra & Paz).