Graça Gonçalves Pereira recorda o Zé Cabral
Graça Gonçalves Pereira foi uma extraordinária consulesa-geral em Maputo. Em 2012, quando terminou essas suas funções, deixei-lhe um enfático - e totalmente merecido - elogio. Está aqui e não vou agora repetir os encómios - e, já agora, nesse texto também justifico, politicamente, a opção pelo termo “consulesa”.
Entre as suas inúmeras actividades a Graça assumiu-se, também, como conselheira cultural do consulado, numa imensidão de actividades e articulações - entre as quais será sempre de lembrar o empenho com que organizou (e realizou) um trabalho sobre Pancho Miranda Guedes, arquitecto fundamental da cidade: constituindo um roteiro e uma exposição. Disso deixei eu um breve eco.
E entre tantas outras realizações - era um benéfico frenesim, aquele centro cultural consular… - também colaborou com o Zé Cabral. Agora deixou no seu mural de Facebook uma memória de uma acção comum. Pedi-lhe para aqui a reproduzir - até porque mostra um Cabral muito menos iracundo do que tantos recordam. Concordou nisso, o que muito lhe agradeço. É este o seu texto e as suas fotografias. E as reproduções do material então disponibilizado, com texto do António Cabrita (e não posso deixar de sublinhar que o Dia Internacional do Pinhole se celebra amanhã, último domingo deste Abril):
E o que é fotografia pinhole? Pois aprendi a fazer com o grande fotógrafo moçambicano José Cabral, que acaba de nos deixar . Alexandre Pomar, José Teixeira , António Cabrita e tantos outros, já por aqui desenharam o recorte do seu talento e humanidade.
O projeto de fazer fotografia com recurso a uma mera caixa de sapatos era do tipo que eu não podia deixar de abraçar sem olhar para trás. Em África. É possivel fazer fotografia sem recursos! Era a tese. Brilhante! José Cabral, Zé Tomaz e Luis Basto pensaram o projeto para a casa do gaiato, que estendemos de seguida às crianças de Matalana, espaço que Malangatana tinha projetado e construido para ser dedicado às artes e artistas. E lá rumámos a Matalana. Top as fotografias feitas pelas crianças (deixo algumas). Tudo explicadinho abaixo nas fotos.
Claro que o Consulado, em conexão, abriu o seu espaço para a exposição "Destapar a Luz" sobre fotografia pinhole. E no folheto também escreveu o António Cabrita, texto abaixo de que se lembrará. Tentei fazer com o José Cabral outro projeto que infelizmente não chegou a ver a luz do dia e se esperaria que alguém o pusesse de pé - um levantamento de todas as fotografias da obra do Malangatana (muitas delas tiradas pelo Cabral), no Arquivo de Fotografia, para eventual composição de um livro sobre o grande Mestre. Foi nessas romagens conjuntas com o José Cabral àquele Arquivo que tive o gosto também de ainda ter conhecido a D. Beatriz, mulher do Rangel, que o dirigia! Tantas pessoas com grande talento e dimensão humana singular conheci em Moçambique! O José Cabral, a quem presto singela homenagem, foi sem qualquer dúvida uma delas.
(Algumas fotografias feitas pelos miúdos)