O Clérigo Mouco (6): as pataletas de Ventura
Há coisa de um ano a um grande amigo deu-lhe uma daquelas coisas fortes, pesadas, graves - felizmente veio a ficar bem, "resiliente" (diz-se agora) que é. A gente acorreu, ansiosa, temerosa, pois não o pode perder... Depois teve umas consultas. Não só não podia guiar como, nos primeiros tempos, tinha de andar acompanhado. Ombreei-o nisso, claro.
Na terceira ou quarta, já ele algo recomposto e carregado de boas notícias e melhores diagnósticos, fomos almoçar à zona ribeirinha, ao seu "sítio". A nós se juntaram dois amigos "dos tempos", companheiros que fomos da má-vida agora prontos para a comum boa-vida (ou será vice-versa?). Lá para o fim do (frugal, claro) repasto tocou-me o telefone, fui atender junto ao Tejo. E tive uma irritação gigantesca, abissal - daquelas do "puta que pariu esta merda toda, basta!", "não me atiro ao rio pois ainda venho dar à margem e será uma vergonha...". Despejei ao telefone, irado, o que me ia na alma (já inexistente - sofrera necrose, fora-me amputada). E mudei a minha vida...
Sentia-me muito mal, alterado. Voltei à mesa, bebi um (apenas um) uísque. Depois guiei o amigo a casa, acompanhei-o na escadaria de quatro andares (as instruções eram claras: não podia andar sozinho, apesar da crescente robustez). Deixei-lhe a chave do seu carro. Apanhei o metro, rumo aos Olivais. Estava um trapo. Fui "medir-me" - um enormérrimo pico de tensão, mesmo perigoso afiançaram, que fosse para casa descansar, e no dia seguinte para o médico...
Parei na esplanada, bebi duas (talvez mais) imperiais, fumei uns cigarros. Depois chegaram vizinhos-amigos, desabafei, "vai para casa descansar" alguém se atreveu... Bebeu-se mais uma ou outra cerveja. Pensei um verídico "que se foda, isto está feito! O que me falta? Talvez, talvez, voltar a dançar um slow (este mesmo) de olhos fechados, mais nada". Ainda cá estou...
Ao mariola Ventura deram-lhe agora uma pataletas, talvez meros chiliques. Vejo imensa gente a gozar com isso. Deveria essa gente saber que isto dá a todos, até aos respectivos queridos.
Sou um reaccionário por dizer isto? Não. Sou velho. Quando tinha 40 anos - e ainda dançava slows - vivia em Maputo. E vi (tenho o recorte de jornal e publiquei-o no blog ma-schamba) o presidente da Assembleia da República em exercício e o ex-ministro da Justiça (e grão-mestre maçónico) passearem-se (depois da embaixada lhes ter encarecidamente pedido para não o fazerem) com o MBS, e muito o elogiando. E o que isso demonstrou e demonstra do que é o PS - o partido destes gozões d'agora - é inenarrável e não o posso escarrapachar, já me bastou o processo que me foi posto por um socratista.
Portanto, aos que gozam com as pataletas do Ventura: se até a mim me dão dessas vejam lá se não dão também ... aos vossos queridos. Se não têm vergonha dos vossos líderes, gamas, jardims e quejandos - e bem deveriam ter - pelo menos tenham... cuidado com os vossos amados, não os agoirem.