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Faz um mês que iniciei esta minha conta na plataforma Substack, criando “O Pimentel”. Tem sido surpreendente: mais de 100 subscritores já, número superior ao que tenho na SAPO, na qual blogo há mais de uma década. E alguns aderiram à subscrição paga, o que muito lhes agradeço. E, atrevido, a todos peço que divulguem entre os seus conhecidos.

Na Substack ainda sigo apenas 4 páginas em português. Mas em anglófonas já li alguns louvores à plataforma. Dizem-na possibilitar o “regresso da palavra”, decerto que ao invés do primado das onomatopeias sintácticas que grassaram no velho Twitter, da telegrafia enfastiada que marca o Facebook, do império da imagem – que não fotografia – da Instagram, ou do adolescente frenesim Tik-Tok. Quem continuou nos blogs sabe que é um bocado exagero. Pois neles subsistiu o “espaço para a palavra”, com leitores – é exemplo o Delito de Opinião, onde escrevo há muitos anos, sempre com médias acima de 1300 leitores. Mas isso não invalida ser a Substack local para leituras mais pausadas.

Por outro lado, leio louvores ao ambiente menos abrasivo, mais conversacional, que aqui vigora. Isso dever-se-á aos conteúdos dos textos, menos provocatórios. E também a estarem os leitores identificados, assim menos dados aos dichotes.

Ao entrar na Substack transitei de duas décadas de bloguismo gratuito para uma escrita hipotética e desejavelmente remunerada: aos textos com mais de um mês só acedem os subscritores pagantes. E quando colocar textos mais “laborais” – por terem exigido mais investimento, com leituras dedicadas e/ou horas de escrita – também os reservarei para os pagantes.

Ao anunciar isto um amigo íntimo, logo me avisou, cáustico, depois de ter subscrito a página: “então vê lá se não continuas a atirar bolas para o pinhal!”. Ou seja, convoca-me para algum tino no rumo. E tem razão. O objectivo é manter “isto” desarrumado – ou seja, não é um local com “agenda”, explícita ou implícita. É um blog – um diário pessoal de sensações, emoções, irritações, reflexões. Será incoerente. Pois considero que a incoerência não é um direito, é um dever. Mas tentar-me-ei disciplinar, manter a bola (oval ou redonda) dentro de campo.

Uma das formas para isso será esta rubrica que agora começo: “O Clérigo Mouco”, e que coexistirá com postais mais longos. Não afianço que seja diária, pois há dias em que nada tenho a dizer ou me faltará o tempo para tal – mas desejo que o venha a ser o mais que conseguir. Serão pequenos apontamentos – textos de uma página A4, como este. E constituirão uma espécie de “prova de vida”, um “ainda cá estou!”. Às vezes também serão ditos, outras vezes não – por não ter a barba aparada, estar ainda pior vestido, ou demasiado maldisposto.

O nome de “Clérigo Mouco” tem explicação: há algum tempo uma intensa problemática cardíaca levou-me a Castelo de Vide, em busca de bálsamo. Ali calcorreei a povoação, e dei com a deliciosa inscrição “Casa do Clérigo Mouco”, decerto um detalhe da história local. O unguento viticastrense foi-me negado. Mas, pelo menos, de lá trouxe esta memória, que torno em epíteto, por o considerar apropriado ao meu rumo.

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