(Lagos, Rua 25 de Abril)
“Hora de almoço” dominical, na Lagos algo intramuros (“old town”, leio-a assim denominada). Durante duas horas cruzo meia dúzia de ruas, algumas vielas. Fotografo, nisso desajeitado mas tentando-me exaustivo. Depois o amigo Edgar Pêra kolaborou comigo, para o discorrer das fotos e na escolha da (tão ajustada) primeira música - a “Eurovision” dos Laibach. Ao “filme” (7’29’’) - de facto diaporama - deixo prévia legenda:
Junto às muralhas ainda se encontra um único e velho dístico “Quartos, Rooms, Zimmer, Chambres” – agora feito vestígio de outras eras. Depois sigo, noto escassos restaurantes e algumas lojas portugueses. Ou, melhor, luso-intituladas. Estão fechados “para descanso do pessoal”. Pois “dia do Senhor”, arreigada cultura católica entre esses ainda luso-falantes? Ou, talvez, e mais isso me parece, funcionando com outros, até já serôdios, modos empresariais e de relações laborais?
O resto, continuado, é uma colecção de sítios onde - ainda - (me) dizem num broken portuguese “aguarde para ser sentado”. Uma fiada incessante e fervilhante, sem-domingos, de lojas de quinquilharia, esta também comensal e atitudinal. E de albergues, para os que à quinquilharia acodem.
E tudo o que por enquanto isso não o é em breve o será. Pois resta agora entaipado. Ou ainda arruinado. E garatujado, nesses grunhidos do grafitismo onomatopaico, ou com escassas manchas de “street curio” (isso que alguns dizem “art”).
Por fim, já junto à marginal, rumo ao comboio, constato: resta-nos a selecção da bola, impante. E um rei sodomizado. É isto um “golpe de sorte”? Vivemos um Lucky Strike?
(Sei que nisto me dirão - e mais nestes dias que vivemos - um conservador. Defensor da pureza pátria, de uma identidade pristina, das virtudes de antanho. Respondo como a parede de Lagos: “Sempre que tenho oportunidade para falar fico calado”. E vou saracotear-me ao som da “Waterloo”. Pois é isso que fica.)